entrevista patologia1Bela Nogueira
Médica de Patologia Clínica

1. Neste último ano, quais foram os principais desafios que enfrentou?
Uma enorme pressão psicológica dos serviços/utentes, no que diz respeito à rapidez de resposta; protocolos de segurança colaborador/utente; dificuldade em fazer compreender aos outros profissionais que a metodologia por PCR (Sars-Cov-2), na altura enviada para o exterior, não era compatível com um caráter de urgência.

A procura desesperada por equipamentos/reagentes para testes COVID-19, num mercado completamente esgotado. Quando apareceram os primeiros testes rápidos por PCR, havia grande limitação no seu fornecimento, ao qual éramos completamente alheios, apesar de todas as nossas diligências. Nem sempre esta realidade foi bem interpretada. A razão do número de pedidos, versus os testes rápidos PCR COVID-19 disponíveis, era extremamente elevada, o que nos levou a ter que contextualizar o motivo - nem sempre bem aceite.

A taxa de esforço exigida ao Serviço de Patologia Clínica, por colapso dos restantes serviços, foi indescritível – solicitação de colheitas de zaragatoas para teste COVID-19 por todos os departamentos, a par das colheitas de sangue – num serviço já deficitário em recursos humanos.

2. Alguma vez sentiu medo (ou ainda sente) de ser infetado?
Medo propriamente dito, não. Receio sim, pela impossibilidade de estabelecer circuitos de segurança separados no laboratório e a possível falha no cumprimento integral das normas de segurança, o que não se verificou, em virtude da excelente prestação do Serviço de Aprovisionamento (fornecimento atempado de Equipamentos de Proteção Individual).
O Serviço apostou na divulgação interna/atualização das normas Direção-Geral da Saúde (DGS), bem como na motivação das equipas nas múltiplas solicitações da sua intervenção.

3. No âmbito da atividade profissional que desenvolve, que aprendizagens retira desta nova realidade?
A readaptação dos colaboradores em situação crítica para manter a capacidade de resposta potenciou o trabalho em equipa, fundamental para a relação profissional/utente, numa tentativa para compensar o distanciamento imposto.

O "desconhecido" levou a uma busca incessante e partilha de informação, com repercussão na melhoria contínua de procedimentos e confiança das equipas.
Afetou as nossas vidas profundamente, em particular na atribuição de novos valores sobre o que nos rodeia e forma de perspetivar o futuro.

4. O que mudou na relação com os doentes?
A capacidade de resiliência do ser humano é algo que jamais devemos menosprezar. O distanciamento implicou uma nova perspetiva no relacionamento profissional/utente, levando a uma necessidade do "reforço do olhar" e a uma maior empatia com próximo.

5. Em algum momento sentiu que o seu trabalho foi reconhecido por outros colegas ou pessoas externas à Instituição?
Sim, certamente que fomos reconhecidos internamente. Não só através do reconhecimento da importância fundamental do serviço no fornecimento dos resultados, como também através das autorizações do Conselho de Administração para aumentar os recursos humanos do Serviço de Patologia Clínica, a fim de adequar a capacidade de resposta ao aumento das necessidades e pelo Aprovisionamento no fornecimento contínuo de Equipamentos de Proteção Individual e consumíveis necessários.
Externamente, através de oferendas que chegaram ao serviço, oriundas de várias entidades.

6. Passado um ano de vivência pandémica, sente mais orgulho na profissão que exerce?
O orgulho já existia, mas a pandemia deu maior evidência à importância do papel decisivo que a Patologia Clínica tem no diagnóstico clínico e monitorização das doenças.

7. Numa palavra, como descreve o primeiro ano da pandemia?
Superação.

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